
Um guardião da memória: Dedé de Badô e o Museu Tropeiros do Seridó
No sertão potiguar, em São José do Seridó, um professor e geógrafo transformou sua paixão por fotos e objetos antigos em um museu vivo. Entre pilões, costuras antigas e fotografias amareladas, Dedé de Badô recria narrativas que se perderiam no tempo — e atrai visitantes, estudantes e corações curiosos para dentro da memória local.



Após anos de dedicação à cultura e à memória de São José do Seridó, o professor e geógrafo Dedé de Badô se despede da coordenação do Museu Municipal Tropeiros do Seridó (MUMUTROPS).
Dedé foi o idealizador e principal responsável pela criação do museu, que surgiu em 2017 a partir de objetos, fotografias e documentos que ele reuniu ao longo de décadas. O espaço preserva a história da cidade e da região do Seridó, com foco nas tradições, costumes, agricultura, música e vida cotidiana do sertanejo.
Durante sua atuação, o museu recebeu alunos de escolas da região, pesquisadores, visitantes e moradores, se tornando um importante ponto cultural e educativo do município.
A Prefeitura de São José do Seridó, por meio da Secretaria de Educação e Cultura, apoiou desde o início a organização do museu, garantindo estrutura, manutenção e incentivo para visitas escolares e atividades culturais.
A gestão municipal reconhece o trabalho de Dedé como fundamental para a valorização da história local e informou que o museu continuará funcionando com nova coordenação.
Agora aposentado, Dedé encerra sua atuação à frente do museu, mas deixa um exemplo de amor à história, dedicação ao serviço público e compromisso com a identidade do povo seridoense.
A jovem Iasmin Isis assumirá coordenação do Museu Municipal Tropeiros do Seridó (MUMUTROPS),de acordo com informações da secretária de educação e cultura, Juliana Andréa Dantas.
A aposentadoria de Dedé representa o encerramento de uma etapa fundamental na história recente da cidade. Além de coordenador do museu, ele também participou de iniciativas ambientais, como o projeto de incentivo à reprodução do canário-da-terra no município, e contribuiu com pesquisas históricas sobre a região.
O museu, inaugurado em 2017 durante as comemorações do centenário da cidade, nasceu de um esforço pessoal de Dedé, que ao longo de décadas reuniu fotografias, documentos, objetos antigos, ferramentas agrícolas e móveis do cotidiano sertanejo. O acervo, cuidadosamente organizado por ele, deu origem a um espaço cultural hoje reconhecido em toda a região do Seridó.
“Meu objetivo sempre foi evitar que a história da cidade se perdesse. Se não houver alguém para preservar, o tempo apaga”, afirma Dedé quando o assunto é a preservação da história de São José do Seridó-RN.
Um projeto que vai além do museu: o canário‑da‑terra e a conexão com a natureza
Mais do que guardião de objetos, Dedé de Badô também se engajou em causas ambientais locais. Ele percebeu o reaparecimento do canário‑da‑terra, ave que havia quase desaparecido da região. A partir dessa constatação, Dedé mobilizou secretarias municipais e apoiadores locais para instalar ninhos artificiais em pontos estratégicos da cidade, com o intuito de favorecer sua reprodução.
A iniciativa une memória cultural e sensibilização ambiental. É uma ponte entre o patrimônio material (objetos, memórias) e o patrimônio natural (fauna local), mostrando que o sentido de preservar também pode gerar vida — literalmente — no presente.
Em um país que frequentemente esquece suas memórias periféricas, o Museu Tropeiros do Seridó não é apenas um depósito de objetos: é uma ponte entre gerações. E Dedé de Badô, com seu zelo silencioso, relembra que preservar não é apenas guardar — é conversar com o futuro.
POR CARLOS FELIPE