O nosso querido padre Gleiber Dantas sempre muito inteligente escreveu um texto com o nome CERTIDÃO DO NORDESTINO que mais parece que ele invadiu nossas mentes e além de descrever , ao mesmo tempo que responde de maneira clássica ao descrever o nosso povo e a nossa culinária. Vejam:

Um sopro de vida, dentro de um pote d’água, num ano de seca. Fui gestado na pedra, nasci em Caicó, na Maternidade Mãe Quininha, filho do caicoense Djalma de Neuza de Chico Mello da Beleza e da serra-negrense Marlene de Maria de Zé Bernardo, lá no Sombrio, divisa com São Bento da Paraíba. Sou descendente dos indígenas, europeus, hebreus e africanos que fizeram o Seridó, neste “Rio Grande do Norte esplendente, indomado guerreiro e gentil”, como diz o nosso hino potiguar. Voto no Padre Walfredo e não abro!
Tenho o couro das Oiticicas e a alma do Saboeiro, danço como a Reforma e minha oração é a reza do velho Bembém. Digo “Viva Deus e morra o diabo!” e engulo o remédio da Samanaú que Mãe Dondon ensinou. Quando chove no roçado, como carne-de-sol e me lambuzo com arroz-de-leite, farofa d’água, paçoca de pilão. Ponche é de limão e laranja, refresco é de tamarina, cajarana, manga e caju. Umbuzada com queijo-de-manteiga é bom demais na Semana Santa. Queijo-de-coalho no feijão verde é tudo! Galinha caipira e arroz-de-graxa fazem a festa! Hoje mesmo eu já comi buchada, panelada, fritada e o sarapatel ficou para outro dia, porque a fartura era grande demais; só não bebi do aluá que Chiquinha Manteiga me ensinou a fazer porque o pote não foi curtido ainda.
Vou jantar mungunzá, que é bom de todo jeito: puro, com mocotó, com chambaril, com nata! Xerém com bode assado, carneiro torrado, com o que for, mata a fome. Agora, não tem preá, arribaçã, tejo, mocó, que seja melhor do que cuscuz com leite e carne assada na brasa. Batata doce, macaxeira, ovo caipira, farinha, tudo mata a fome na hora do aperreio. Não tem comida, nesse Nordeste de meu Deus, para eu não achar boa! Coalhada com mel de rapadura ou com ela rapada é a ceia melhor de se fazer depois da boca da noite.
Aprendi o bê-a-bá lendo cordel. Junto as letras e digo alguma coisa na minha escrita de beradeiro. Digo que sou do Nordeste com muito orgulho, até porque foi aqui que começou o Brasil. O resto do mundo todinho tem vontade de ser daqui e, como não é, mete o pau, mas a gente é como massa de pão na qual, quanto mais se bate, mais cresce e saborosa fica. Viva o Nordeste!
@gleiberdantas – Caicó, 08/10/22.
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